ENTREVISTA | Leanderson Silva, autor de Proletário
Oi pessoal! Hoje conversamos com Leanderson Silva, autor de 39 anos nascido e residente no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, e que escreveu Proletário, um livro baseado em fatos reais cuja abordagem remete à temas cotidianos e à constante guerra que os moradores da comunidade vivem.
Clube de Livros: Acho que todos nós queremos saber um pouco mais sobre o autor por trás de Proletário. Vamos começar com uma apresentação: nos fale um pouco sobre você, quais são os seus hobbies, o que você gosta de ler?
Leanderson: Meu nome é Leanderson Silva, sou escritor de primeira viagem. Gosto de ler obras de autores como Paulo Coelho, Eduardo Sphor, Token. Meu hobbie é fotografar.
CL: Desde então quais autores te inspiram e/ou são seus favoritos?
Leanderson: Eu gosto muito da escrita do autor Eduardo Sphor, em relação a forma dele contar a história. Inspiração, nessa linha que eu escrevo, só tem o autor de tropa de elite, mas a pegada dele é outra.
CL: Entendido! E como era sua relação com o mundo da escrita e da leitura quando criança?
Leanderson: Como minha família não tinha recursos naquela época para comprar livros, eu vivia dentro da biblioteca da escola lendo livros da Cecília Meireles, Carlos Drumond, entre outros autores.
CL: Depois desse início, como e por que você ingressou nesse mundo da escrita?
Leanderson: Eu sempre tive essa vontade de escrever uma história da comunidade onde eu morei por anos, mas a violência, as tragédias que aconteciam fizeram com que eu atrasasse ainda mais a escrita. Depois de várias coisas acontecerem bem perto de mim “literalmente” eu comecei a anotar e depois da ocupação criei coragem e escrevi o livro.
CL: Foi um processo difícil? E levando em conta esse processo, para você quais as principais dificuldades de ser um autor no Brasil?
Leanderson: Primeiramente o brasileiro, essa é a primeira dificuldade. Nosso povo não gosta de ler e isso dificulta. Segundo que não temos um incentivo para publicações independentes. Por último, custa caro ser autor aqui no Brasil.
CL: Neste contexto complicado, por que você começou a escrever e o que te motiva a continuar?
Leanderson: Comecei escrevendo um conto, minha filha gostou; fiz outros contos e me empolguei a escrever o livro contando mais detalhes da trama. Me motiva continuar escrevendo a saga toda do Proletário; dá prazer e por isso continuo e acredito que um dia alguém grande vai ler e investir.
CL: Sobre Proletário, de onde veio a inspiração para escrever e como foi escrever esse livro?
Leanderson: A inspiração veio com a vivência no lugar onde nasci, observei que não tem livros com a mesma pegada e escrevi. E foi difícil escrever, pois morar em uma comunidade tem lá suas regras: se você ler o livro vai entender o que eu estou dizendo. Minha intenção foi escrever de forma que eu conseguisse pegar o leitor pelas mãos, apresentar as regras da favela, mostrar os becos e vielas, deixar o leitor se acostumar com a favela e de repente boom, tudo acontecer de forma tão chocante que ele sentiria na pele o que o morador sente todos os dias.
CL: Os personagens de Proletário são bem construídos e bem reais; através da leitura é possível imaginar qualquer um deles como alguém perto de você ou até colocar-se no lugar deles. Os personagens do livro são baseados em alguém que você conhece? Se sim, de que forma?
Leanderson: Na verdade os personagens do livro são uma soma de pessoas que eu convivi ao logo de anos e outras que eu mesmo criei.
CL: Qual a mensagem que você deseja passar com Proletário?
Leanderson: Acho que o livro em si conta como é sobreviver em uma comunidade onde impera a violência, e a grande maioria só conhece pela televisão; quando acontecem tiroteios e invasões assim como está acontecendo com a Rocinha.
CL: Essa é uma questão importante. Como você, que já escreveu e vivenciou o mesmo tipo da situação que anda ocorrendo na Rocinha, se sente nesse momento? Você consegue ver semelhanças com Proletário?
Leanderson: Triste, me sinto profundamente triste, pois sei que aquilo é apenas a ponta do iceberg, o problema real acontece longe das câmeras , longe dos holofotes. Consigo ver cada detalhe que escrevi no meu livro em cada noticiário que destaca nas mídias em geral, não só o complexo mas em todas as comunidades.
CL: Outro ponto importante do seu livro são as diversas críticas sociais embutidas nele e o final (bastante surpreendente), que você já disse, deixa possibilidade para nova história. Podemos esperar uma continuação? Se sim para quando? Vai continuar com esse viés crítico?
Leanderson: Sim, tem continuação. Recebi um feedback muito bom de várias pessoas querendo mais história com o mesmo viés. 2018 devo estar finalizando e entregando para minha amada copidesque, Luhana Andreolli. Sim vou continuar com o mesmo viés crítico , com a mesma pegada e força que o Proletário iniciou.
CL: Como leitores e fãs ficamos muito empolgados com isso. Precisamos de mais livros assim. Então, para finalizar: Deixe sua mensagem para nós leitores e fãs de Proletário, para os autores que estão nessa estrada (árdua) de ser escritor no Brasil.
Leanderson: Cada pessoa que ler meu livro posso considerar mais que um fã e sim amigos, que conseguem sentir ao ler cada palavra que escolhi para tocar em cada um de vocês. Tive o cuidado para não expor nenhuma pessoa da favela que tanto sofre no seu dia a dia. Quero agradecer casa um de vocês e quem sabe no futuro possamos nos encontrar em alguma tarde de autógrafos da vida.
Aos autores do Brasil eu digo: ser autor aqui é muito difícil mas não desista, sempre vai existir alguém de muito valor que vai ler seu livro.
Ser autor é difícil, ser negro e autor é duas vezes mais difícil e mesmo assim eu não desisti e nem vou desistir; enquanto houver leitor interessado em ler meu livro eu escrevo.
Vida longa e próspera!
entrevista feita por Thalliany Ribeiro e Clube de Livros
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Amei a entrevista <3
Saaaaah que bom que gostou ❤ No blog tem outras entrevistas incríveis!