AUTORAMENTE | Poemas de Júlio Urrutiaga Almada
Mil Risadas por minuto
Mil Risadas por minuto. Mil Desgraças insólitas e tiros no absurdo. Tiros à queima roupa .Tiros à flor da Pele. Mulheres com gosto de não te curto. copos voando balcão afora. o dono do bar te golpeando com insultos, embora a conta esteja paga. Homens que são mulheres desde o berços, loucos para te dar um beijo de mulher-aranha. O Tesão de álcool é algo que nos engana. Esperança de junkie é durar muito a próxima dose. converso sobre política, arte, filosofia, a menos de 2 metros de uma carreira bem sucedida de pó de nostalgia e outros artigos voláteis. Saio do bar de camas de gato e ganho um belo abraço de tamanduá. Tento chamar um táxi e constato: meu celular agora terá outro dono. Lembro das costas tatuadas dela, nas fotos deixadas na memória do telefone roubado.
Mil e uma Noites de vodka quente
Eu sei pouco de gente nominável
Gastarei litros de insônia
Sem uma canção que os salve
Que nos salve ou salve
salve canção que seja
Aonde todo erro de expressão
seja beleza
E no sangue
o sangue pouco lavável
Destrua a vida
arumando
a mesa
Da fome sempre imposta
Da fome de tripas inchadas
Da cara de truques enormes
E fomes infames e bem conforme
A gula que nos engole
O gole que nos afoga
O tranco que nos tranca
Abrindo aos nós a porta
As melhores camisas rasguei com o peito
Com o peito pouco sabido pouco afiado
Pouco desnudo nos dias mais parcos
Pouco desnudo nos dias mais dias
Com os olhos tíbios de cores
E o olfato ofegante
Confundi o confuso
Com o simples: simplesmente impuro
E morri centelha depois de ter vivido faísca.
A tatuagem cobria-lhe o abdômen, virilha e roçava a perna e, ela o amou só com as tatuagens de sempre: um outro desenho em todos tatuado: conheci gente que só tinha o corpo como patrimônio e ainda outros que de seu só tinham o sarcasmo, o escárnio e o esquecimento. Ela pediu-lhe: retoque o nome da outra: faça um cacete ou um dardo ou uma teia de aranha , mas cubra esse nome: ah, por precaução no caminho tatue uma bala em movimento para extirpar todo passado.
EL Poeta Arrestado
Duele el Silencio de los buenos…
Venden nuestra alma a diario
rompen el derecho de luz
haciendo sombra en las semillas
destrozan el amor por no valer nada
gritemos de pecho ancho hasta que valga
cada sonrisa y no el sudor robado
hay en america una sola sangre
la que siembra la espada del reproche
el reproche a la poca vida
de reproche al monstruo de la codicia
un poeta arrestado es un rayo de sol
sujetado con sogas
hay intención de pararlo
pero solo se difunde su tiempo.
A foto ontem tua
é um fato novo
e sacudo o pó da lua
e te guardo no meu olho
querida morri cem vezes
meu coração é uma pedra
assanhada
cor de tristezas moídas
cheiro de flor apagada
uma pedra de amolar
discórdia
mais um furacão domado
rasgando ao respirar
esse meu peito rasgado
A foto ontem tua
me segredou ao ouvido
amor como uma espátula nua
e tirou da minha vida o sentido
o sentido sentir-se sempre
um sonho rolando na subida
amasso a foto na memória
a dor ainda é meu combustível.
Amorte
Quando o não-ser
Dos dias
Cala a perna.
E o coração:
Roda-desesperada
Nos trava a boca.
E a língua:
seca.
E a mão com pressa:
A vida transborda,
Dirás dos meus olhos
Vermelhos e falhos
Ter visto um suor pálido
Antes e depois
Da última dose
De querer-te
E sentir só:
O trago.
É nessas noites-tardes
Que a saudade
Me beija montando
os dentes
e tem o cheiro
de um sangue doce
e te perco à primeira vista
e o nosso amor nos cria
como órfãos.
Julio Urrutiaga Almada é poeta, escritor, professor, tradutor e dramaturgo. Transeunte do Mundo. Identificado com a realidade latino-americana. Geminiano com ascendente em peixes e lua em câncer. Nascido em 15/06/1969.

Sobre o autor
- Editor-chefe da TXT, Daniel Mascarenhas Osiecki nasceu em Curitiba, em 1983. Escritor e editor, publicou os livros Abismo (2009), Sob o signo da noite (2016), fellis (2018), Morre como em um vórtice de sombra (2019), Trilogia Amarga (2019) tendo mais dois no prelo: 27 episódios diante do espelho e Fora de ordem. Editor-adjunto da Kotter Editorial, é mestre em Teoria Literária e organizador do sarau-coletivo Vespeiro - vozes literárias.
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